Estou à espera do meu neto, mas não vou poder pegar-lhe ao
colo. Não que ele queira, pois isso impedi-lo-á de mexer onde não deve, não o
deixará fazer uma sementeira de CD e livros pelo chão. A culpa deste
impedimento é das netas e do malfadado jogo de badminton a que fui sujeito, como se tivesse de cumprir uma pena ou
de pagar uma promessa. Com o passar das horas, as dores lombares parecem
expandir-se e o voltaren, uma espécie
de santo, está renitente em operar um dos seus milagres. Lá em baixo, com o
retorno do tempo mais seco, as crianças invadiram o parque infantil e as suas
vozes afiadas chegam até mim. Quando se calam, faz-se um grande silêncio. No
horizonte, a serra é um vulto imóvel e cinzento, uma fronteira que separa dois
mundos. O sábado progride em direcção à noite. Leva com ele a ilusão do
fim-de-semana e ostenta orgulhoso no dorso o título de último sábado do ano.
Está um sol convidativo e o mais assisado será levantar-me daqui e ir dar uma
volta a apanhar sol. Não me posso afastar, pois não faltará muito para que o rapaz
chegue.
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