sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Um problema de consciência

Olhei para a rua e pensei que devia enfrentar este tempo incerto e fazer uma caminhada. A necessidade de andar tornou-se um pensamento recorrente nos últimos meses e chego a temer que se transforme numa obsessão. Quando tomo consciência de que estou a pensar nisso, encolho os ombros, sento-me à secretária e espero que outra coisa venha ocupar-me o espírito. Se o malfadado pensamento persiste, sou mais drástico, encho o peito de ar e fecho a janela. A minha consciência diz-me que não devia escrever coisas como estas, pois o fitness, que o estrangeirismo me seja perdoado, não deve ser objecto de ironias de mau gosto, ainda por cima vindas de alguém que anda sempre em conflito com a balança e a leitura que esta se atreve a fazer da realidade. Vale-me olhar com condescendência, se não com desprezo, para a minha consciência. Toda a gente estima muito a consciência que tem, não havendo no mundo melhor que a sua. Por mim, vendia a minha ou, se ninguém a comprasse, deitava-a num daqueles depósitos que recolhem materiais usados para reciclar. Não para que ela possa ser reutilizada, mas para não poluir mais este pobre planeta, que geme e arfa sob as poluções nocturnas de consciências inquinadas, que não param de distribuir sentenças e bons conselhos por tudo o que é sítio. Uma réstia de sol ilumina as paredes da escola ao fundo da rua. Convida-me a sair de casa e ir caminhar cidade fora. A continuar com pensamentos destes ainda tenho de marcar consulta no psiquiatra. Talvez todas as sextas-feiras sejam dias de paixão.

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