Olhei para a rua e pensei que devia enfrentar este tempo
incerto e fazer uma caminhada. A necessidade de andar tornou-se um pensamento
recorrente nos últimos meses e chego a temer que se transforme numa obsessão.
Quando tomo consciência de que estou a pensar nisso, encolho os ombros,
sento-me à secretária e espero que outra coisa venha ocupar-me o espírito. Se o
malfadado pensamento persiste, sou mais drástico, encho o peito de ar e fecho a
janela. A minha consciência diz-me que não devia escrever coisas como estas,
pois o fitness, que o estrangeirismo
me seja perdoado, não deve ser objecto de ironias de mau gosto, ainda por cima vindas
de alguém que anda sempre em conflito com a balança e a leitura que esta se
atreve a fazer da realidade. Vale-me olhar com condescendência, se não com
desprezo, para a minha consciência. Toda a gente estima muito a consciência que
tem, não havendo no mundo melhor que a sua. Por mim, vendia a minha ou, se
ninguém a comprasse, deitava-a num daqueles depósitos que recolhem materiais
usados para reciclar. Não para que ela possa ser reutilizada, mas para não
poluir mais este pobre planeta, que geme e arfa sob as poluções nocturnas de
consciências inquinadas, que não param de distribuir sentenças e bons conselhos
por tudo o que é sítio. Uma réstia de sol ilumina as paredes da escola ao fundo
da rua. Convida-me a sair de casa e ir caminhar cidade fora. A continuar com
pensamentos destes ainda tenho de marcar consulta no psiquiatra. Talvez todas
as sextas-feiras sejam dias de paixão.
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