domingo, 8 de dezembro de 2019

Fim das actualizações

Há uma semana que os presépios tomaram conta da sala. A um canto, está o presépio tradicional embora sem musgo e depois, distribuídos pelos móveis, múltiplos pequenos presépios que com os anos se foram acumulando. Já ninguém se lembra como a coisa começou e, verdade seja dita, não foi assim há tanto tempo. A cada um as suas idiossincrasias. Hoje ainda não saí de casa. A névoa cobre a terra, oculta o hospital que haveria de se ver da minha secretária, abre-se num horizonte de cinza contra o qual se recorta o pequeno bosque da escola ao fundo da rua. O Outono corre para o Inverno, deixando na memória estes dias que pedem recolhimento. Inopinadamente, enquanto escrevo isto, a Microsoft informa-me que o meu Office vai deixar de ser actualizado. Recomenda-me que adquira uma versão mais consentânea com os dias de hoje. Também eu há muito deixei de ser actualizado e, por mais voltas que dê, não consigo comprar uma versão mais moderna de mim. Sempre posso usar um daqueles programas gratuitos alternativos aos da Microsoft, mas no meu caso nem gratuita há uma versão alternativa. Não porque eu seja uma singularidade, mas porque não há qualquer vantagem em haver outra versão de mim. A natureza é sábia e usa a frugalidade para evitar a multiplicação do erro. Tenho muito que fazer. A corveia que me permite enfrentar a dura necessidade não me dá descanso. Oiço uma música chamada Ships Along the Harbor. Vejo o cais, os barcos atracados, o ondulado das águas, sinto o sopro do vento marítimo e os meus pés a caminhar na humidade do porto. Tudo isto sentado com uma pilha de papéis na frente para ler. O Natal aproxima-se e ainda não cuidei da secção dos presentes.

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