Há uma semana que os presépios tomaram conta da sala. A um
canto, está o presépio tradicional embora sem musgo e depois, distribuídos
pelos móveis, múltiplos pequenos presépios que com os anos se foram acumulando.
Já ninguém se lembra como a coisa começou e, verdade seja dita, não foi assim
há tanto tempo. A cada um as suas idiossincrasias. Hoje ainda não saí de casa.
A névoa cobre a terra, oculta o hospital que haveria de se ver da minha
secretária, abre-se num horizonte de cinza contra o qual se recorta o pequeno
bosque da escola ao fundo da rua. O Outono corre para o Inverno, deixando na
memória estes dias que pedem recolhimento. Inopinadamente, enquanto escrevo
isto, a Microsoft informa-me que o meu Office vai deixar de ser actualizado. Recomenda-me
que adquira uma versão mais consentânea com os dias de hoje. Também eu há muito
deixei de ser actualizado e, por mais voltas que dê, não consigo comprar uma
versão mais moderna de mim. Sempre posso usar um daqueles programas gratuitos
alternativos aos da Microsoft, mas no meu caso nem gratuita há uma versão
alternativa. Não porque eu seja uma singularidade, mas porque não há qualquer
vantagem em haver outra versão de mim. A natureza é sábia e usa a frugalidade
para evitar a multiplicação do erro. Tenho muito que fazer. A corveia que me
permite enfrentar a dura necessidade não me dá descanso. Oiço uma música
chamada Ships Along the Harbor. Vejo
o cais, os barcos atracados, o ondulado das águas, sinto o sopro do vento
marítimo e os meus pés a caminhar na humidade do porto. Tudo isto sentado com
uma pilha de papéis na frente para ler. O Natal aproxima-se e ainda não cuidei
da secção dos presentes.
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