Um domingo de reclusão. Como um monge na cela medita sobre os mistérios da salvação, também eu meditei no escritório, embora os motivos de meditação fossem mais terrenos e inúteis. Durante toda a minha vida, o inútil foi aquilo que mais me atraiu. Não há como um dia inútil para que se medite sobre coisas inúteis. Poderia ser de outra maneira? Claro que podia. O que me impediria de meditar, por exemplo, na terrível Cláusula Filioque? Terrível, pois é uma das razões do grande cisma do oriente. Será que o Espírito Santo tem a sua origem apenas no Pai, como pretendem os ortodoxos, ou no Pai e no Filho, como advogam os católicos? Nada mo impediria e o motivo de tal meditação nunca seria esgotado, pois como poderia um mero mortal conceber um teste que provasse a verdade de uma das teses e a falsidade da outra? O que parece provar essa impossibilidade é que o cisma ocorreu há quase mil anos e, ao que consta, não se avançou um passo na resolução do enigma. Seria, todavia, mais útil meditar sobre a teoria das cordas, sobre essa possibilidade de unificar matematicamente a teoria da relatividade e a mecânica quântica? Tenho as minhas dúvidas. Seja como for, sei tanto de teologia como de física, o que significa que não poderiam, nem uma nem outra, ser motivos de meditação de um recluso de domingo na cela do seu escritório. Também é possível que tudo isto seja mentira e que tenha saído de casa e caminhado pela cidade, acumulando pontos cardio que, segundo a Organização Mundial da Saúde, contribuem para prolongar a vida e o bem-estar. Poderei ainda ter ido em excursão a uma certa aldeia do concelho, onde os agricultores vendem laranjas à beira da estrada, e comprado um saco delas. Um desses proprietários de laranjais, por acaso uma senhora já de alguma idade, também vende toranjas. Isso faz-me lembrar os tempos em que começava o dia com um copo de sumo de toranja. Depois, motivado pela necessidade de tomar um certo medicamento incompatível com esse citrino, abandonei o pequeno prazer diário. Agora, oiço o Quinteto para Piano n.º 1, da compositora polaca Grażyna Bacewicz. Muito gostava de saber pronunciar tal nome.
Quando me interessa saber a pronúncia correcta de certos nomes próprios, pesquiso o nome e, a seguir, escrevo: how to pronounce. Vai gostar de ouvir esse nome.
ResponderEliminarGdybym się urodzila
ResponderEliminarnie w tym, co trzeba, plemieniu
i zamykaly się przede mna drogi?
Wistawa Szymborska
w zatrzęsieniu
EliminarQue problema desgraçado:
ResponderEliminarSerá que caiu o famoso altar
Embora não fosse ainda começado?
Agradeço que não me envie mais pautas musicais. Prefiro ensaios.
Será Fauré
Eliminarterramoto suficiente
Ou teremos em Mozart
Tudo o que nos vai na mente?
Aqui não faço ideia do que se trata ou o que está em causa.
EliminarNão se trata de nada e nada está em causa, a não ser entendermo-nos, como nos versos de Szymborska:
EliminarSe não tivesse nascido
na tribo certa
e todos os caminhos se me fechassem?