O admirável mundo das coisas. Hoje estive numa daquelas videoconferências que, com a pandemia, se tornaram marca de modernidade. Intrigou-me ver na janela que me dizia respeito aparecer uma imagem tão difusa que mais parecia a de um vidro martelado que em tempo haveria nas casas de banho. A certa altura, perguntei se me viam a mim ou a outra coisa. Outra coisa, uma espécie de vidro da casa de banho. Confirmei a minha suspeita. Tinha decaído ao nível da vidraça martelada. Tendo sido proferido o ite, missa est, desliguei e fui fazer experiências. Nunca consegui que a imagem, no caso a minha, superasse o nível de vidro fosco de uma casa de banho. Imagino que a câmara colapsou. Aliás, neste computador existem várias coisas a entrar em colapso. Recusa-se a funcionar, enquanto lhe ordeno que funcione, corrompe ficheiros, de preferência Excel, quando eu muito gostaria que os preservasse. Também o microondas se recusou a aquecer o que tinha de aquecer, mas o problema não estava nele, descobri ao fim de alguns dias, mas na tomada onde estava ligada, de onde não tomava energia suficiente para que as microondas microondeassem. Em resumo, as coisas andam em maré de colapso. Quase poderia afirmar, sem exagero, estar perante um apocalipse do mundo material. Para minimizar o efeito da acção dos maus espíritos, oiço Chet Baker, não no trompete, mas a cantar. My Funny Valentine, neste momento. Tenho de fazer ainda um conjunto de coisas esta tarde, pois a realidade nunca pára de se realizar e, ainda por cima, tenho um jantar de aniversário. O sol desta terça-feira está um pouco mais anémico do que o de ontem, todo ele músculo e exuberância.
Em As faces de Harry, de Woody Allen, há um personagem (Robin Williams), que começa a ficar desfocado… e não é culpa do equipamento. Talvez seja melhor ir ao médico (embora possa dar jeito).
ResponderEliminarTalvez seja mesmo uma boa ideia ir ao médico. É plausível que esteja a ficar desfocado, a perder os contornos e a figura. Vários indícios parecem confirmar a suposição.
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