Já
vamos no segundo dia do novo ano e ainda não vi nada de substancialmente
diferente daquele que acabou. Quase me apetece perguntar por que espúrias
razões acabaram com o ano, se o novo é igual. É provável que, com o desenrolar
dos meses, o novo se diferencie do velho, mas sempre se podia ficar mais um
tempo em 2024, desacelerando o tempo, dando mais e maiores horas a cada dia,
alterando mesmo o calendário para 14 ou 15 meses. Todas estas ideias magníficas
que me nascem na mente encontram a barreira inultrapassável que o homem comum
ergue contra o génio, pois só um génio poderia ter ideias tão desaparafusadas.
Este génio dedicou o dia de hoje ao trabalho, embora – pois sempre é um génio
envelhecido – tivesse de passar pela dentista, uma rapariga novinha e doce que
dificilmente se imagina, mesmo que se seja genial, de broca em punho ou de
alicate a puxar um dente tomado por uma qualquer moléstia (o que não era o meu
caso), a superintender a boca dos pacientes. Não contente com isso, ainda fez
uma visita à farmácia, onde, além de comprar medicamentos, trocou umas palavras
com o farmacêutico de serviço sobre certos efeitos secundários que um
medicamento não se cansa de produzir. No fundo, a vida é isso: uma salsada de
consequências benéficas misturadas com efeitos secundários. Chegará o momento
em que os efeitos secundários suplantarão as consequências benéficas, mas as
coisas são o que são e também o que não são. O não-ser ainda fará, de algum
modo, parte do ser, mas hoje não estou inclinado para a ontologia. Não choveu
neste segundo dia do ano. Não me parece que isso seja um bom presságio. Não
tarda e teremos as barragens a reclamar pela falta de água. Um péssimo
acontecimento.
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