terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Um dia para esquecer

Ocupado em múltiplas tarefas que deverão salvar o mundo, embora o mundo não queira ser salvo. A religião, no mundo ocidental, morreu, apesar de muita gente pensar que não. Contudo, o espírito religioso, com a sua missão salvífica, espalhou-se por toda a sociedade, e não há organização ou instituição que não queira salvar qualquer coisa. Basta que exerçamos uma função, seja a que for, para sermos parte de um enorme corpo sacerdotal, cujo fim é zelar pela salvação. Uns dedicam-se a salvar isto, outros aquilo, e ainda outros salvam qualquer coisa que lhes apareça diante dos seus olhos salvíficos. Não estou a sofrer de um delírio hiperbólico. Levamos um carro à oficina e ali estará um sacerdote que o confessará para o salvar. Não vale a pena falar dos médicos, pois são uma seita soteriológica conhecida há muito. Alguém que recorre a um advogado fá-lo na esperança da salvação. Todavia, há diversos ramos que oferecem a salvação em grandes doses, mas enfrentam o mesmo problema que as religiões ocidentais. Ao ardor dos salvadores não corresponde o zelo dos hipotéticos candidatos à salvação. Eu, um pobre diabo que não tem inclinação para a predicação nem para salvar seja quem e o que for, também, por vezes, sou mobilizado em exercícios de salvação. O resultado é sempre o mesmo: quem precisa de salvação não a quer. Pelo contrário, prefere a perdição, coisa que se pode perceber. É como descer a encosta da montanha: é muito mais fácil do que subi-la. A gravidade sempre foi amiga dos perdidos; ajuda-os na perdição. Acho que, depois das ocupações a que fui sujeito hoje, enlouqueci, como se pode ver pelo hermetismo deste texto. Há quem pense que essa afirmação é falsa, pois sofre de anacronia: já enlouqueci há muito, mas não dei por isso. Cada um pense o que quiser ou o que puder.

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