sábado, 11 de janeiro de 2025

Ciprestes

Está um belo entardecer, com um sol animado e uma temperatura amena. Os campos que se avistam do sítio onde me encontro estão verdejantes, e uma melancolia suave envolve toda a realidade, onde pontuam velhos ciprestes, que não desistem de apontar para o alto. Olho-os e penso que são árvores de outra época, na qual as coisas elevadas eram dignas de culto. As coisas belas são difíceis, pensava Platão, mas a nossa época prefere a facilidade. Está cheia de facilitadores, de gente que facilita aquilo que é fácil. Ao desprezar a beleza – os artistas, nas suas muitas revoluções, pretenderam matar a beleza, despojar a arte da sua presença – e o difícil, o fácil torna-se difícil, e o acesso fácil agora difícil precisa de ser facilitado. Talvez por isso os ciprestes sejam árvores pouco amadas. Haverá quem diga que esse pouco amor está ligado à sua presença nos cemitérios, à sua associação com a morte. Servirá como desculpa, mas a força retórica com que o cipreste fala aos humanos, uma força muito mais incisiva do que qualquer outra árvore, cujos ramos se lateralizam, torna-se excessiva para uma audiência incapaz de perceber que nem tudo no mundo se equivale, que a ignorância não é a mesma coisa do que a sabedoria ou a douta ignorância, que a verdade e a falsidade têm significados diferentes, ou que a beleza e a fealdade não são uma mera questão de gosto subjectivo. Vou dar um passeio e contemplar os ciprestes.

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