Uma ida ao cinema, sessão das quatro da tarde. Alguns espectadores, não muitos. Uma característica comum. Todos tinham direito aqueles descontos de bilheteira para maiores de 65 anos. A certa altura um telemóvel tocou, alguém atendeu, como se estivesse na rua ou num café. Uma vez por outro ouvia-se um comentário. Apesar destes pequenos vícios materiais, a plateia tinha uma virtude. Ninguém se lembrou de comprar pipocas e passar o filme a mastigá-las. Uma experiência arcaica e que nunca me deixa de surpreender: entrar na sala de cinema em pleno dia e sair noite feita. Fico sempre espantado por o filme não ter tido o poder de suspender a passagem do tempo. Em mim, qualquer coisa, no subconsciente, espera encontrar o dia que tinha deixado ao entrar na sala escura. É com um esgar de contrariedade que recebo a noite. Depois, habituo-me. Chegado a casa, sem saber a razão, apetece-me continuar na via cinematográfica. Hesito entre começar a rever os filmes do conjunto que recebeu o título de Comédia e Provérbios, de Eric Rohmer, ou retornar a um já antigo amor alemão, Heimat, de Edgar Reitz, três séries de filmes, com 30 episódios, e que acompanham uma família alemã, de Hunsrück, na Renânia, entre 1919 e o pós Queda do Muro de Berlim. Não existe edição portuguesa. Tenho a francesa, isto é, a alemã com legendas em francês. É uma obra monumental, mas já a vi duas vezes e nunca considerei que estava a perder tempo. Existem dois filmes, também de Edgar Reitz, centrados na mesma família, mas no século XIX. Foram realizados depois da última série de Heimat. O Inverno tem as suas virtudes. Uma delas é convidar a ficar em casa a ouvir música ou a ver filmes. Talvez a ler. Decidi-me, vou ver La nostalgie du voyage, o primeiro filme de Heimat 1. Paul Simon volta da guerra.
Sem comentários:
Enviar um comentário