Um dia péssimo para sair por aí para enfrentar gigantes e matar dragões. Também um herói tem os seus limites e os meus manifestam-se nestes dias cinzentos, de chuva persistente, dias desagradáveis e sem tino. Por isso, não acrescentei qualquer feito à minha gesta. Limitei-me às rotinas diárias necessárias para pagar as contas ou a dormitar em frente do computador, pois heróis como Quixote, Cid ou Rolando só não dormitaram em frente de computadores porque, nos seus dias, não os havia. Coisa de que se ressentem muito, segundo dizem quando falam comigo. Asseveram-me mesmo que não é justo que eu possa construir a minha história recorrendo às tecnologias de informação, enquanto eles tiveram de esperar que alguém escrevesse as deles, truncando a realidade dos acontecimentos, diminuindo-lhes a bravura e ofuscando-lhes a glória. Sugeri-lhes que pedissem uma segunda oportunidade. Não houve estupefacção no seu olhar, mas apenas ironia. Pensas, disseram-me em coro, que não o fizemos já. Olhei-os, expectante. Silêncio, até que eu, incapaz já de suportar a ausência de diálogo, lhes perguntei: qual a resposta? Não há segunda oportunidade, ouvi.
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