Imagino que seja um problema de falta de tempo. Tenho sobre o tampo da secretária três romances, todos norte-americanos, com largas centenas de páginas. O mais pequeno caminha para as setecentas, o intermédio quase chega às novecentas e o maior avizinha-se das mil. Corria no meu tempo de estudante a história – talvez não apócrifa – de que um antigo professor daquela casa, pessoa que nunca conheci, na defesa da tese de doutoramento se desculpou perante o júri do volume da tese, citando Pascal ou Voltaire, talvez Mark Twain: Não tinha tido tempo para a fazer mais pequena. Foi o que pensei ao manipular estas obras. Devem ser autores muito ocupados. Não tiveram tempo para escrever romances mais pequenos. É verdade que algumas obras-primas do século XX são enormes romances, alguns inacabados, por falta de tempo. Quando se tem tempo, põe-se um travão à expansão do universo romanesco e, se o tempo crescer, deve-se mesmo obrigar a que entre em retracção. Percebe-se que muitos romances dos nossos dias tenham dimensões colossais. Não serão poucos os autores que pensarão: o tempo não dá para nada.
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