Um domingo indisposto. Chuva, vento, apesar de não estar frio. Um dia em que tudo se inclina para ficar em casa, mas o aniversário de uma neta obrigou-me a enfrentar os modos pouco convidativos deste primeiro dia da semana. Ah… não, este será o último dia da semana. Há várias versões sobre este tormentoso assunto. Fui investigar. As tradições judaico-cristãs, entre elas a católica, vêem o domingo como o primeiro dia da semana. Já, segundo uma norma ISO – precisamente, a 8601 – o primeiro-dia da semana é a segunda-feira. ISO remete, em português, para a Organização Internacional de Normalização. E as normas por ela decretadas têm a função de unificar procedimentos internacionais. Dito de outra maneira, são produtos burocráticos cuja finalidade é uniformizar o que é diferente. Ora, em Portugal – como poderia ser de outro modo? – adoptou-se a regra burocrática e remeteu-se a tradição religiosa para o grande pântano das coisas não modernas. Por detrás disto, está uma análise da semana em que esta é vista a partir do primado da economia e do trabalho. Cinco dias de trabalho, dois de descanso. Para burocratas, cuja visão do mundo é menor que a dos cegos, não faria sentido começar a semana com um dia de descanso, a que se seguiriam cinco de trabalho, e, por fim, outro dia de descanso. Demasiada complexidade para mentes enteadas do cartesianismo. Talvez tenham pensado que pôr os dias de descanso no primeiro e no último dia da semana acabava por colocar o trabalho como uma interrupção do lazer, o que contraria o espírito moderno, tão dado à actividade. O descanso é um permissão benévola que se dá aos que teriam o dever de trabalhar todos os dias da semana. Contudo, não perceberam que a tradição religiosa ao colocar o primeiro dia da semana no domingo tinha um sentido fundamental. O domingo, tal como o domingo de Páscoa, é começo de um novo mundo, o momento onde se concentra nos homens tudo aquilo que se manifestará durante a semana. Se os burocratas fossem sensatos, decretavam que o primeiro dia da semana seria o domingo. Contudo, se fossem sensatos, não seriam burocratas, nem andaria a ganhar a vida fazendo normas.
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