As minhas sextas-feiras estão longe da perfeição. Começam
com uma lentidão exasperante, com os segundos a arrastarem-se trôpegos e
indecisos pelo caminho, quase incapazes de se transformarem em minutos,
evitando o mais que podem que estes se combinem em horas, ronceiros a fazer
gala na indolência, madraços subjugados ao pecado mortal da preguiça. Imagino
que por virtude de um almoço revigorante, chegada a tarde, esses mesmos
segundos são tomados por uma louca azáfama e dão em acelerar pela pista fora,
como se tivessem por missão conquistar a pole
position e saírem na frente da corrida. Nada lhes tolhe as pernas e quanto
maior é a presteza com que passam, mais rápido se movem. Chegada a noite, cada
minuto passa à velocidade de um segundo e não há sinalização de trânsito nem
radar que os leve a amolecer o ímpeto. Se eu fosse um homem de engenho,
apunhalava uns tantos, deixando-os a sangrar para que os outros segundos os
vissem com olhos de ver e tomassem tento, aprendendo com Zenão e tornando-se em
verdadeiros Aquiles que nunca hão-de alcançar a vagarosa tartaruga. Falta-me veia para executor e, dir-me-ão, arte para encontrar motivo para escrever
coisas decentes, que animem o mundo ou edifiquem as gentes para que estas não entrem
no caminho da perdição. Muitas são as vias que nos levam à loucura, umas mais
lentas outras mais rápidas. Haverei de lá chegar.
E porque haverá de lá chegar?
ResponderEliminarÉ assim tão importante chegar à loucura?
🤔
Maria
Importante não é, mas é uma possibilidade e com o passar do tempo cada vez mais possível.Seja como for, o narrador tem uma certa tendência retórica para a hipérbole.
EliminarHV