terça-feira, 26 de novembro de 2019

Submetidos à irmandade

Gostaria muito de crer que a proposição “os pinguins são seres humanos” é verdadeira, como me afiançaram talvez por desfaçatez ou distracção. Nunca se sabe o que move os indivíduos pertencentes à nossa espécie. Apesar do meu esforço em torcer a consciência, tive de me declarar incrédulo. Não ser crente num mundo como aquele que frequento para obstar à maldita necessidade é errado e começa a ser perigoso. A minha realidade existencial é superintendida por uma espécie particular de teólogos. Estes têm por divisa o quanto mais absurdas forem as nossas crenças com mais empenho as devemos impor. Fazem-no com denodo e sem cansaço. Com o passar dos anos a produção teológica tornou-se exorbitante e não se observa nenhum sinal de abrandamento. A matéria de fé é tão extensa e a dogmática tão hiperbólica que é impossível que qualquer um dos superentendidos pela irmandade não seja numa qualquer altura um verdadeiro heresiarca. Como todos sabemos, os heresiarcas não costumam ter um bom destino, e talvez seja por isso que aqueles que como eu se submetem à irmandade tenham sempre a consciência pesada. Não por um qualquer pecado capital, mas por sustentarem por palavras e acções uma qualquer heresia da qual não têm consciência. Já pensei estabelecer uma correlação entre o tipo de textos que escrevo e os dias da semana. Talvez se mostrasse que as terças-feiras não são especialmente propícias para escrever coisas com nexo. Fico por aqui, pois espera-me uma tarefa sem a qual o mundo ficaria bem pior.

Sem comentários:

Enviar um comentário