Gostaria muito de crer que a proposição “os pinguins são
seres humanos” é verdadeira, como me afiançaram talvez por desfaçatez ou distracção.
Nunca se sabe o que move os indivíduos pertencentes à nossa espécie. Apesar do
meu esforço em torcer a consciência, tive de me declarar incrédulo. Não ser
crente num mundo como aquele que frequento para obstar à maldita necessidade é
errado e começa a ser perigoso. A minha realidade existencial é superintendida
por uma espécie particular de teólogos. Estes têm por divisa o quanto mais
absurdas forem as nossas crenças com mais empenho as devemos impor. Fazem-no
com denodo e sem cansaço. Com o passar dos anos a produção teológica tornou-se
exorbitante e não se observa nenhum sinal de abrandamento. A matéria de fé é
tão extensa e a dogmática tão hiperbólica que é impossível que qualquer um dos
superentendidos pela irmandade não seja numa qualquer altura um verdadeiro
heresiarca. Como todos sabemos, os heresiarcas não costumam ter um bom destino,
e talvez seja por isso que aqueles que como eu se submetem à irmandade tenham
sempre a consciência pesada. Não por um qualquer pecado capital, mas por sustentarem
por palavras e acções uma qualquer heresia da qual não têm consciência. Já
pensei estabelecer uma correlação entre o tipo de textos que escrevo e os dias
da semana. Talvez se mostrasse que as terças-feiras não são especialmente
propícias para escrever coisas com nexo. Fico por aqui, pois espera-me uma
tarefa sem a qual o mundo ficaria bem pior.
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