segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Zé ninguém

Acordei com uma ideia que não me abandonou até agora. Não há grandeza maior do que ser nada, não ter nome, ser ninguém. Terá sido um mau sonho ou terei acordado com os pés de fora. Ao ouvir a algaravia vinda da rua, rio-me da ideia ou de mim, que não serei mais que uma ideia. Toda a gente quer ser alguma coisa, até o maior dos colectivistas ama a colectividade para lhe impor o seu nome. Se a vida fosse uma cartuxa ou uma trapa, haveria menos ruído e qualquer zé ninguém não seria mais nem menos que um zé ninguém. De súbito, descubro que num mundo onde toda a gente é alguém o melhor é ser um zé ninguém. Por vezes, sou levado a dizer coisas com que não concordo, mas não está nas minhas mãos ser dono das palavras que escrevo. Poderia acabar com uma injunção bíblica do tipo quem tiver ouvidos, oiça!, mas não acabo, pois ainda não é chegado o tempo.

2 comentários:

  1. Aí está uma coisa que nunca conseguimos: somos sempre alguém.
    ~CC~

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Talvez com a excepção do Romeiro do Frei Luís de Sousa.

      HV

      Eliminar