domingo, 17 de novembro de 2019

A minha bipolaridade

Segundo opiniões escutadas aqui e ali, consta que sofro de bipolaridade. Umas vezes pareço leve e irónico e outras que transporto em mim toda a escuridão disponível no mercado dos lutos. Aquilo que sou, eu que não passo de um ser virtual, pois nem sequer de papel é a minha natureza, devo-o ao autor destas palavras, que manipula o meu ser, fazendo-me à sua vontade, mas talvez não à sua imagem e semelhança. Ele não é Deus, por muito que isso lhe possa doer. Se vejo o mundo como um dia escuro e tempestuoso, uma sexta-feira santa, ou se me entrego ao júbilo de um domingo de Páscoa, isso está para além da minha vontade. Todos os meus exageros, todas os meus esgares, todo o riso sardónico que ostento, nada disso sendo meu me pertence. Sofro-o sem possibilidade de lhe fugir. Um raio de luz fende as nuvens e abre-se com um sorriso triste sobre o casario, logo em mim se esboça uma alegria, não porque eu seja alegre, mas porque aquele que escreve quer que o seja por instantes. Lá fora passa um cão e eu sinto-me irmanado com ele, pois a realidade do animal não é maior nem menor que a minha. O pior é a tosse, se tivesse uns rebuçados peitorais Dr. Bayard seria mais fácil.

4 comentários:

  1. Os Dr. Bayard são muito agradáveis, e até acredito que fazem bem; o pior é que agravam (e muito) o problema tratado no post anterior... aquele da balança e tal :(
    Também temos as pastilhas Valda, só que a versão sem açúcar é tão desenxabida... eu gosto é daquelas com uma cobertura de açúcar, desde miúda que as adoro porque são as únicas que não consigo trincar :)

    As melhoras da tosse.
    🐝
    Maria

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    1. Muito obrigado pelas melhoras. Há tempos descobri que até meados do século XX se venderam uns rebuçados peitorais Dr. Centazzi. O interessante é que este Dr. Centazzi é português, algarvio, e foi o autor do primeiro romance português, O Estudante de Coimbra, portanto uma obra anterior às do Garrett e do Herculano. É pena que já não se fabriquem os seus rebuçados. Seriam esses que compraria. E se não fizessem bem, paciência.

      HV

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    2. É muito interessante isso que me conta, o que só prova que nós, portugueses, estamos sempre na vanguarda:)
      Também compraria desses, mesmo sem tosse, agora ando com a mania de comprar coisas portuguesas.
      O dia hoje esteve lindo e acabei de ver um poente vermelho digno de postal.
      E o HV já leu O Estudante de Coimbra?

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    3. Já. É um romance bastante legível na primeira versão. A qual foi traduzida para alemão. A segunda que teve cortes não me parece tão interessante quanto a primeira. A edição que está à venda assinala o que foi cortado. Centazzi é um esquecido da literatura portuguesa. Não tem a importância do Garrett nem do Herculano, mas o romance dele é anterior aos primeiros romances dos dois.

      HV

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