sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Os lírios do campo

A sexta-feira progride entre o cinzento dos céus e a tristeza da cidade. Há sempre neste dia da semana um pathos que, contra o que seria de esperar, faz descer nos corações um véu de melancolia, como se o desejado fim-de-semana fosse mais uma ameaça pela sua transitoriedade que um motivo de júbilo pela sua existência. Somos difíceis de contentar. Talvez exista uma memória histórica que se tenha entranhado no nosso código genético e que dispara, sem que se saiba porquê, estes estados de alma. Li que hoje em dia os seres humanos livres trabalham muito mais que os servos da Idade Média. Eu sei que todo o fulgor que nos rodeia, essa possibilidade de fazer compras sem fim, de não perder qualquer promoção, de nos atafulharmos de tudo o que não precisamos, eu sei, dizia, que isso exige muito trabalho, que devemos estar sempre mobilizados para a grande batalha produtiva. E depois lembro-me que os lírios do campo não trabalham nem fiam, mas que Salomão em toda a sua glória nunca se vestiu como qualquer um deles. Temo que a educação religiosa que recebi me tornou completamente desadequado ao mundo onde sobrevivo. Ou talvez eu fosse já desadequado e que a educação recebida, a que não dei a sequência que era desejada, me sirva de desculpa. São ínvios os caminhos do Senhor.

3 comentários:

  1. Os lírios do campo são lindos!
    E os do Van Gogh também :)
    Lembro-me de ter lido um livro do Érico Veríssimo com um título semelhante, tenho a vaga sensação de ter gostado de o ler, mas não saberia dizer do que trata... e é isso que me entristece, ir perdendo a memória.
    Bem sei que posso ir ao Google, mas não é a mesma coisa.

    Bom domingo, HV.
    🎃
    Maria (cabeça de abóbora)

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  2. Queria dizer bom sábado, obviamente.
    Estou ainda pior do que pensava...
    🎃

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  3. Nunca li nada do Érico Veríssimo, mas talvez ainda chegue a vez dele.

    Um resto de bom sábado.

    HV

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