Há pouco desesperei do meu talento de taxinomista (quando escrevo esta palavra penso sempre em taxidermista). Tinha classificado duas árvores que vejo daqui como acácias bastardas. Ter chegado a essa categorização não foi para mim, possuidor de uma ignorância generalizada sobre tudo o que é flora, um exercício fácil. Hoje ao olhar para as árvores lembrei-me que essas acácias são de folha caduca e elas, com Novembro já meio vazio, estão de um verde contumaz. Se são de folha persistente, então não são acácias vítimas de bastardia. Logo veio a ironia fácil e pensei que terão nascido dentro do casamento e são legítimas. Levantei-me, fui à janela para as olhar com mais atenção e tentar perceber mais uma vez o formato da folha. Nesse momento fui salvo. Ao lado das duas está uma irmã, que não via da secretária, já com a folhagem amarela, prenunciando a caducidade das folhas. São-me ocultas as razões que terão levado uma a amarelecer mais depressa que as outras. O meu mundo reduz-se a cada dia que passa. Chove, venta, os astros e os humores andam indispostos e eu penso em coisas tão importantes como a bastardia das acácias, a caducidade das folhas, a caducidade de tudo o que penso, a minha caducidade inexorável. Teria sido mais sensato ter-me dedicado à taxidermia, mas agora é tarde.
As árvores agradecem, por certo, silenciosamente a sua atenção. E além disso as acácias fazem aparições em muitas poesia e ficção, se calhar não tanto como os plátanos... agora fiquei curiosa e se tivesse tempo investia na procura de poemas com árvores.
ResponderEliminar~CC~
As tílias são muito literárias. Noutras paragens, as bétulas também não ficam mal. Num ambiente mais romântico, nada melhor que um cipreste.
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