sábado, 16 de novembro de 2019

Balanças incrédulas

Guardo para os sábados, ao levantar-me, um ritual que não aconselho a ninguém. Ponho-me em cima da balança e vejo o veredicto. Hoje não foi diferente. A julgadora, amante de hipérboles, concedeu-me uns números excessivos, que não lhe asseguram a meus olhos qualquer credibilidade. Saí de cima dela, respirei fundo e dei-lhe uns segundos para repensar a mensagem que me queria transmitir. Voltei ao rito, ela, contudo, também cultiva a anáfora e devolveu-me o mesmo peso. Tudo isto é inexplicável. Há três semanas que sigo um programa rigoroso de emagrecimento e nada. Todos os dias sento-me tranquilo e apaziguado e dedico vinte minutos a uma profunda meditação transcendental, seguida de cinquenta recitações do mantra Om Mani Padme Hum e, no fim de cada uma, projecto no universo a minha imagem sem barriga e outras adiposidades que não vêm ao caso. A balança, na sua essência digital, não se comove. Estou arrependido de a ter comprado, mancomunada que está com a interpretação científica do mundo, pouco dada à espiritualidade. Se ela não se arrepende e converte substituo-a por uma analógica, que não há-de ter aqueles inconvenientes que Heidegger aponta à técnica moderna. Oiço uma voz insidiosa a exclamar e que tal fazer exercício. Atónito, nem consigo perceber se foi alguém que falou ou se a minha consciência adquiriu alforria e pensa que deve ser o meu personal trainer. Digo silêncio, sento-me e a partir de agora serão trinta minutos de meditação transcendental e cem recitações do mantra sagrado. Hei-de chegar ao peso dos vinte anos.

4 comentários:

  1. A culpa é do Outono e depois será do Inverno: batata doce, castanhas, torradas com manteiga, scones...e ainda por cima está a chegar aquela coisa do Natal, ou seja arroz doce, fatias douradas, bolo rei...é dramático! Não tenho pois, nenhum alento a dar...a meditação, não resulta...se for como eu o mais certo é só lhe dar sono, umas caminhadas talvez, acho que não são grande coisa para perder calorias mas se encontrar escadas e subidas, sempre consegue um pouco mais:)
    ~CC~

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    1. Vendo bem, prefiro culpara a balança, à sua falta de fé. As caminhadas não são más para o efeito, o pior é fazê-las.

      HV

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    2. A sua segunda frase, HV, é das mais verdadeiras que já li por aqui :)
      Mas a ~CC~ também tem razão, o tempo frio obriga-nos a comer mais; e as festas natalícias dão-nos o golpe de misericórdia.
      Valham-nos todos os deuses!
      🍁🍁

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    3. E a esperança vem depois do Natal. Festas cumpridas, volta-se à frugalidade. Um conto de fadas.

      Valham-nos deuses, as fadas e toda a armada invisível.

      HV

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