Em cima da secretária está uma ficha de inscrição. Por certo
irei inscrever-me em qualquer coisa, pois assim determina o fado. As pessoas
gostam muito de pertencer e não haverá caminho mais fácil para ser parte do que
inscreverem-se. Inscritas, logo serão chamadas e o desejo diz-lhes que hão-de
ser escolhidas. Olho para a rua e vejo um sol tímido com vergonha de refulgir nas
paredes, avisto as folhas agitadas pelo vento nas árvores que por aqui há. Em
tudo o que observo há uma tristeza, uma hesitação, como se a realidade não
soubesse que caminho tomar na encruzilhada que um deus colocou diante dela. Não
tarda terei de abandonar o lugar onde estou para ir para outro onde me esperam.
No caminho não há encruzilhadas, apenas rotundas e cruzamentos. A encruzilhada
encontrei-a há muito e escolhi o caminho errado, mas nunca sabemos se, mesmo
numa encruzilhada, há um caminho certo. O melhor é preencher a ficha e
inscrever-me antes que seja tarde, embora eu pratique a despertença e de tudo me
desinscreva. Parece que hoje não chove. Uma pena, as barragens precisam de água
como eu de me calar.
No oposto, adoro pertencer, desde que isso não signifique prender. Pertencer, preferencialmente sem ficha de inscrição, só sentir.
ResponderEliminar~CC~
O que vale é que a vida é feita de pluralidades, que se completam e tornam tudo um pouco mais complexo. E interessante.
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