quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Desinscrição

Em cima da secretária está uma ficha de inscrição. Por certo irei inscrever-me em qualquer coisa, pois assim determina o fado. As pessoas gostam muito de pertencer e não haverá caminho mais fácil para ser parte do que inscreverem-se. Inscritas, logo serão chamadas e o desejo diz-lhes que hão-de ser escolhidas. Olho para a rua e vejo um sol tímido com vergonha de refulgir nas paredes, avisto as folhas agitadas pelo vento nas árvores que por aqui há. Em tudo o que observo há uma tristeza, uma hesitação, como se a realidade não soubesse que caminho tomar na encruzilhada que um deus colocou diante dela. Não tarda terei de abandonar o lugar onde estou para ir para outro onde me esperam. No caminho não há encruzilhadas, apenas rotundas e cruzamentos. A encruzilhada encontrei-a há muito e escolhi o caminho errado, mas nunca sabemos se, mesmo numa encruzilhada, há um caminho certo. O melhor é preencher a ficha e inscrever-me antes que seja tarde, embora eu pratique a despertença e de tudo me desinscreva. Parece que hoje não chove. Uma pena, as barragens precisam de água como eu de me calar.

2 comentários:

  1. No oposto, adoro pertencer, desde que isso não signifique prender. Pertencer, preferencialmente sem ficha de inscrição, só sentir.
    ~CC~

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    1. O que vale é que a vida é feita de pluralidades, que se completam e tornam tudo um pouco mais complexo. E interessante.

      HV

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