Hoje é domingo, pensei ao levantar-me. Havia sol nas ruas,
mas a aplicação do telemóvel tratou logo de me esclarecer que a temperatura não
chegaria aos vinte graus. Noutra altura, seria ocasião para ficar grato ao deus
do clima. Uma vaga apreensão nasceu em mim, mas logo a afastei, esperando que o
tempo se compadeça e dê uma ajuda. Agora, enquanto escrevo, olho para a rua, o
céu cobriu-se de um manto de cinza que os raios solares têm dificuldade em
atravessar. Novos hábitos começam a desenhar-se, constato. Outros porém são difíceis de combater, como a
tentação sem fim de levar as mãos à cara. É um exercício de vigilância difícil
e nós, há muito, perdemos o hábito de nos vigiarmos. A partir de certa altura a
autovigilância começou a ter má reputação, pois contraria um modo de estar
espontâneo e a espontaneidade foi entendida como prova de ser autêntico. A
vida, porém, contínua. No Facebook,
descubro que a missa dominical da TVI é transmitida da Igreja de S. Pedro,
oficiada pelo pároco local e pelo bispo da diocese para um auditório vazio. Num
site noticioso sou informado que um
homem foi assassinado à facada e que a Rainha Isabel II abandona o Palácio de Buckingham.
Percorro uma edição online de um tratado medieval atribuído, primeiramente, a
Hugo de S. Victor e, depois, a um anónimo cisterciense, companheiro de Bernardo
de Clairvaux. Numa pequena introdução dizem-me que está redigido sem ordem
nem método e, a partir de certa altura, cheio de repetições. Percorro-o rapidamente
e encontro isto: e aquilo que fatiga o
lutador coroa o vencedor. Repito para mim a mensagem e talvez ela baste
para fazer esquecer toda a desordem que, segundo o editor, macula o texto ou as
nossas vidas, acrescento. Alguém, ainda na Idade Média, deixou uma palavra para
todos os tempos difíceis. E aquilo que
fatiga o lutador coroa o vencedor.
Sem comentários:
Enviar um comentário