Chegámos então a segunda-feira. A vida é muito repetitiva, de sete em sete dias volta-se ao mesmo, até que vem o dia em que não haverá mais dias, nem semanas. Aí nada se repetirá a não ser essa repetição infinita de nada acontecer, mas nessa altura nada disso nos diz respeito. Nem a nós nem aos outros, esta é a verdade crua. A inexistência de cada um é indiferente a ele e a todos os outros. Sem excepção, sublinho. Não faço ideia por que me vieram agora estes pensamentos à cabeça. Num livro, leio que ela, sem nome, quer por prenda de anos que ele a leve à pensão, se não o corpo, o dela, explode. Tudo isto parece um bocado hiperbólico, já que muitas haverá que não são levadas à pensão e não se ouvem por aí explosões. A crer no que leio, a realidade deveria ser um teatro de guerra entre bombardeamentos e deflagrações, mas a vida desliza tranquila. Oiço a Montserrat Figueras a cantar música composta no tempo do Elogio da Loucura, de Erasmo de Roterdão. A Figueras não voltará a cantar, infelizmente, mas nós ainda a podemos ouvir. No friso das orquídeas, a branca já lançou umas hastes e ameaça florir antes de todas as outras. Como certas pessoas, também há plantas que sofrem de hiperactividade, perdem a noção do ritmo e vão pela vida fora em acelerações e travagens sem nexo. Por mim, prefiro a hipo-actividade, deslocar-me pela travessa da lentidão, pois sempre se há-de chegar à praça do serôdio bem a tempo. A segunda-feira não me ajuda. Como se pode ler.
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