As acácias, só de olhar para elas, eram-me ainda há dias motivo de prazer. São agora causa de decepção. Estão a outonar mal, como aquelas pessoas que, com o aproximar do fim, deixam cair o manto da dignidade com que se cobriam. Quando vier, com a sua melíflua rudeza, o Inverno destas paragens, elas, as acácias minhas vizinhas, serão apenas troncos e ramos, súplicas dirigidas aos céus, esqueletos petrificados para sobreviver ao frio. Depois, chegando o tempo ressuscitarão. Talvez tudo acabe por ressuscitar, quando chegar o tempo. Deveria evitar este tom oracular. A profecia não me coube como dom. O dia já esmoreceu, a luz abandonou a tonalidade quente com que há pouco cintilava e arrefeceu. Vai arrastar a palidez até que a noite a cubra de escuridão. Abro um livro e deparo com uma interrogação: Où allez-vous? Ora essa, aonde haveria eu de ir. A lado nenhum. Um grito lancinante corta o entardecer. Fico à escuta, mas apenas oiço o nevoeiro dos carros que passam ao longe.
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