O dia está a chegar à colina do crepúsculo, um sol sem vontade de viver demora-se ainda uns instantes numa das paredes do hospital, depois penso sobre as palavras e ocorre-me que as haverá em maior número do que coisas para dizer com elas. Isto, todavia, é uma formulação obscura e deve ser banida do texto. Não foi uma semana fácil, mas hoje é véspera de sábado, aquele dia que, de manhã, faz parecer que todas as possibilidades estão abertas. Vieram-me à memória antigas manhãs de sábado em que, depois de comprar um maço de jornais, me sentava no café a lê-los. Muitos deles já morreram, jornais e cafés, assim como esse meu hábito. Hoje cultivo uma sóbria solidão e as coisas do mundo reverberam muito menos dentro de mim. Outrora, agora não sei, nas aldeias, os velhos sentavam-se ao sol e ficavam em silêncio. Cismavam, deitavam contas à vida, enxotavam algum cão, se se aproximava. Se alguém os cumprimentava, respondiam lentamente, como se fosse penosa a viagem entre a cisma e as regras do mundo. Um dia, desapareciam do seu lugar, deixavam de cismar e morriam com a vida revolvida naquelas horas intermináveis de solidão solar. Talvez pensassem que o sábado era eterno. Talvez pensassem no que não tinham feito. Talvez pensassem em nada.
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