Enquanto escrevo, um programa de optimização do computador
exerce laborioso a sua função. Talvez não devesse estar a escrever enquanto ele
luta com denodo contra a corrupção da máquina e faz o que pode para a manter à
tona de água. Invejo os computadores. Como eu desejaria poder correr em mim um software que me optimizasse. Não haveria
erros de registo, nem de atalhos. Acabaria com os problemas de privacidade, as
ameaças de spyware e o desempenho,
esse elevar-se-ia à estratosfera. Infelizmente, não há um programa desses que
me livre de tudo aquilo que me corrompe as vísceras, infecta a alma e apodrece
o espírito. É neste estado que enfrento a entrada numa das épocas mais
melancólicas do ano. Só de me lembrar daqueles carnavais portugueses, com as
raparigas quase despidas, a fingir que são brasileiras e que trazem o samba à
flor da pele, dá-me vontade de chorar. Depois, oiço palavras como foliões e nesse
delicado momento a minha vontade de invadir a Bélgica ou mesmo a Polónia é desmedida.
Vão ser tempos difíceis. Os dias estão cada vez maiores e o sol mais quente.
Olho para a paisagem e só vejo primaveras e qualquer coisa em mim fica apreensiva.
A Primavera é um embuste da natureza para nos enfiar à socapa nos matagais ínferos
do Verão. O baloiço lá em baixo range e eu vou rangendo com ele. Hoje devia
recomeçar as caminhadas. Aliás, devia recomeçar muitas coisas e não tenho tempo
para tanto recomeço, o melhor é procrastinar.
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