A quinta-feira passou a fronteira que separa a manhã da
tarde, vai a trote, sem impaciência. Ao nomear o dia lembrei-me de um romance
de Chesterton lido há muito, O Homem que Era
Quinta-Feira. A história metia anarquistas, polícias e espiões infiltrados,
acabando por tudo se confundir. É o que acontece na vida não romanesca. Tudo se
confunde. Porventura, eu deveria ser mais honesto e dizer tudo se me confunde
ou confundo-me com tudo. Imagino que quando se é recém-nascido a mente seja
povoada por um caos e que, paulatinamente, se vai organizando até se tornar um
cosmos límpido e quase aprazível, como aquele que Descartes exibia quando tinha
por habitantes da sua mente as evidências, tão claras e tão distintas, que
ofuscariam um sol como o de hoje. Eu, confesso, nunca tive muitas evidências, embora
viva num mundo onde não há cão nem gato que não as exija . Seja como
for, eu sei que é quinta-feira porque o calendário assim o diz ou talvez me
tenha lembrado do romance do Chesterton e feito a dedução, aliás brilhante, que
se segue: hoje lembrei-me do romance O
Homem que Era Quinta-Feira, logo hoje só pode ser quinta-feira. Como se vê,
existem já evidências do meu estado de confusão mental, em que confundo a objectividade
do calendário com a subjectividade da memória. Espero que amanhã, por
contiguidade metonímica ou por mera associação, me lembre do Robinson Crusoe e acerte no dia da
semana. Com o avançar da tarde a confusão só pode aumentar. Quando a noite
cair, o caos mental será tão grande que talvez já nem saiba o meu nome, se é
que terei algum nessa altura.
Entre a objectividade e a subjectividade é que nós existimos, creio não sermos uma coisa ou a outra. Boa sexta feira!
ResponderEliminar~CC~
Talvez um pouco perdidos entre ambas, nuns dias mais, noutros menos.
EliminarHV