Ocupam-me os dias coisas inúteis cuja finalidade é melhorar
o mundo e as pessoas, mas que, por um capricho da natureza que escapa aos
homens, têm o poder desmedido de tornar o mundo pior e as pessoas mais
incapazes de lidar com ele. Abstenho-me de entrar pelos ínvios caminhos da
política, os quais me estão proibidos, mas agradeço aos deuses a sua sabedoria,
pois sempre que querem melhorar os homens, estes pioram, sempre que querem curar
as coisas, estas adoecem. Se os deuses não fossem tão inteligentes talvez se deixassem
dos seus infinitos planos de melhoria. Corriam, porém, o grave risco de o mundo
e as gentes se tornarem um pouco melhores. O que seria desagradável. Com esta
conversa toda, deve-me ter acontecido alguma coisa. Não é verdade. Há dias que
qualquer um, mesmo um mero narrador incorpóreo, alma pura, tem de desabafar
sobre o ínvio curso das coisas. É um costume antigo e venerando e, por isso
mesmo, digno de apreço e reconhecimento como verdade. Lá fora, o sol ainda deve
estar quente. Tinha pensado fazer uma caminhada após o almoço para digerir as
maleitas da existência, mas temi que, como alma pura, não suportasse o calor.
Se tivesse um boné para a cobrir, ainda me arriscava. Não posso esquecer-me de
apontar na lista de compras um boné. Estão de volta os pássaros que o ano
passado me acompanharam os dias. Cantam à minha janela como se estivessem num
serão para trabalhadores promovido pela Fundação Nacional para Alegria no
Trabalho. Mais dia menos dias, só quem tiver mais de setenta anos percebe alusões
como esta. A minha alma sem corpo não está a funcionar lá muito bem. Talvez a
devesse descontinuar e criar um modelo novo.
FNAT- sei o que é, e ainda não cheguei aos 70:)
ResponderEliminarPode enviar para vá os passarinhos, são muito bem vindos.
~CC~
Entre as pessoas com 60 anos ou mais haverá muitas que ainda saberão. Na casa dos 50, pelo menos a partir dos 55 para baixo será difícil.
EliminarEles não me obedecem e também gosto de os ouvir.
HV