Ganha-se má fama e pouco há a fazer. Depois de ter ouvido a
irmã dizer mil vezes que têm de levar as raquetes de badminton para jogarem
comigo, a minha neta mais velha, cansada da iteração, respondeu que não achava
isso grande ideia, pois a última vez que o avô jogou com elas deu cabo das
costas. Entrar na adolescência é abrir a porta da blasfémia, foi o que me
ocorreu quando soube do comentário impiedoso acerca da minha condição atlética.
Dei indicação estrita para não se esquecerem das raquetes. Se ficar sem me
mexer, paciência. Está um domingo gordo, cheio de sol, os insectos que o
inverno tinha adormecido despertam e enchem o ar de zumbidos. Tenho dias em que
a verve descamba para o regionalismo, para pintar paisagens bucólicas, por onde
caminho à beira do rio, a vida a florescer à minha volta, os pássaros a cantar.
Ser provinciano é um exercício trabalhoso, onde há que adoçar as vísceras,
conter ideias que possam atravessar a mente como um relâmpago e desabarem no
mundo como um trovão. Duas comparações seguidas não são bom augúrio para o meu
destino de autor. Há tempos comprei duas obras da Sarah Beirão. Falo a sério.
Amores no Campo e Serões da Beira. Numa deles, a autora escreve: Amavam-se
enternecidamente. E fico aqui na minha província, diferente da dela, sentado à
secretária, a olhar para aquele amor terno, à antiga, como de imediato se
esclarece. Um daqueles amores de almas enlaçadas, a vibrar nas mesmas emoções,
uma cornucópia de olhares e desejos que hão-de traduzir-se em muitos filhos, ou
não, pois nunca li o conto. Um dos livros traz, no interior, uma assinatura e o
ano de 1942 e, mais abaixo, uma dedicatória e a data de 16-XI-59. A vida tem
destas coisas. Alguém, uma mãe, compra o livro ainda a segunda guerra mundial
estava a meio, oferece-o à filha e ao genro, ou ao filho e à nora, mesmo antes
de se chegar aos gloriosos anos sessenta e agora jaz à minha frente, depois de
ter sido vendido a um alfarrabista. O que tem isto a ver com o badminton? Nada,
mas a vida é feita de coisas que não têm nada a ver umas com as outras.
Se é! Gosto muito de badminton, mas há muitos anos que não jogo e não sabia que o jogo estava em recuperação pelas gerações mais novas. Acho que é o encanto da "pluma", corta o ar mais lentamente que uma bola e com outra elegância:). Espero que tenha conseguido jogar.
ResponderEliminar~CC~
Também não sei se está em recuperação. Em casa de umas primas, havia umas raquetes e elas gostaram. Comprei-lhes também raquetes e volantes e vão treinando. Ontem joguei um pouco e parece que não fiquei sem costas. Vamos ver com a continuação.
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