Chegou o fim-de-semana, mas agora tudo parece contaminado. A
semana entra pelo seu fim como se este fosse dado à utilidade. Aqui deveria
acrescentar e vice-versa, mas talvez não seja verdade que também o
fim-de-semana contamina os dias de labor. Num livro de um filósofo americano
leio que o tédio é um assunto sério e ele acrescenta pressuroso que a essência
do tédio reside em não termos interesse no que se passa. Tudo isto é dito
candidamente num ensaio sobre o amor. Uns sofrem de spleen, outros são atacados pela náusea e outros não se interessam
pelo que se passa. Não vou pensar sobre este assunto, mas talvez coleccione as
palavras para criar uma taxinomia de estados existenciais e poder usá-los
sempre que tenha oportunidade. Comecei a falar de contaminação, mas logo me
perdi por outros caminhos, como se a realidade se estivesse sempre a bifurcar-se
diante de mim, para que eu me perca nela e não encontre o caminho para casa.
Voltando ao magno problema da contaminação, também a noite contamina o dia com
as suas asas de seda negra e assim a luz vai tornando-se crepuscular, cheia de
tremores e hesitações, fazendo crescer as sombras até que tudo se apague e se
envolva no pez que uma existência entediada faz cair sobre o mundo. Há pouco vi
gente a entrar para o bar do outro lado da rua. Pergunto-me se já se poderá ir
beber uma cerveja, embora eu não goste particularmente dessa bebida de
bárbaros. Como é habitual, não me ocorre nada para dizer. Hoje é sexta-feira,
dia 22 de Maio. Ontem foi feriado, mas esqueci-me de o proclamar. Muitos são os
concelhos que fazem da Quinta-Feira de Ascensão o seu feriado. Imagino que vejo
papoilas na escola ao lado, mas por certo não se tornarão no supremo encanto da
merenda, pois as burguesas já não fazem piqueniques, nem tomam parte em
histórias que mesmo sem grandeza dariam ainda uma aguarela.
Já pode beber uma cerveja numa esplanada sim...ou um café, um sumo natural, um copo de vinho...aqui mais a sul, o desconfinamento é geral e ontem até foi difícil encontrar esplanada...embora as medidas deles dos dois metros não pareçam exactamente medidas com fita métrica:)
ResponderEliminar~CC~
É verdade, até já se pode ir jantar fora, mas há nos restaurante - ou naquele a que fui - uma melancolia que parece inultrapassável. Os dois metros pareciam estar ser cumpridos, mas tudo parecia sofrer de uma dor inexplicável. Veremos com vai correr este desconfinamento.
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