Como se fosse um fim-de-semana normal, levantei-me mais tarde que o habitual. O tempo pareceu-me incerto quando o espreitei da varanda. Na rua havia gente, pouca, que andava devagar, máscara afivelada ao rosto, certa de ter um destino que a espera no deambular pelas ruas. A balança mostrou-se amistosa, o que prenuncia que o tratado de não beligerância acabará por ser assinado. Tenho pela frente, a primeira vez desde que tudo isto começou, uma ida em força às compras. Até aqui, havia alguém que valendo-se da idade o fazia, mas o mundo é incerto e tudo tem um fim. Quem tinha idade para ir às compras teve de voltar para a realidade. A realidade é um país distante onde as coisas acontecem segundo leis que ninguém conhece. Não é porto de abrigo, nem seguro, nem sequer é um porto, mas um oceano proceloso onde os mortais, por vezes, mergulham. Recordo-me que há que procurar a máscara, pôr a jeito luvas e gel, caso seja necessário. O dia entristece-se e já começou a descer a colina que o levará a outro. Não sendo mais, também não é menos estúpida a vida dos dias do que a dos homens. Mal nascem começam a subir a escarpa inclinada que os levará ao meio-dia, então não lhes resta alternativa senão descer até se afogarem no mar, enquanto outro nasce com o mesmo destino. E é a isto que se resume todo o seu ser. Pressinto que tal sorte daria motivo a grandes meditações metafísicas, mas por agora prefiro chocolates. Para dizer a verdade, continuo sem assunto. Hoje é sábado, dia 9 de Maio. O vento bate contra a vidraça, as persianas tamborilam e penso que deveria cortar o cabelo e ver um filme. É pena que não existam filmes em que se saia de cabelo cortado. Poupava tempo. Tenho de ir mudar de roupa.
Sem comentários:
Enviar um comentário