Até a frugalidade parece-me um excesso. Foi o que pensei depois de almoço. Não vivo num tempo de coisas mínimas, mas numa circunstância em que devo minimizar-me. Diminuindo-me, mais fácil será desaparecer. Foi a isto que um antigo ateniense chamou aprender a morrer e a estar morto. Era uma escola rude, a que não faltavam inimigos. Não é de agora o desejo de maximização, apesar de nenhuma época que não a nossa ter insuflado tanto os pequenos egos. Oiço, lá em baixo, risadas alarves, saídas da boca impenitente da adolescência. Essa, compreende-se, é pouco dada ao minimalismo, entregando-se antes ao exercício da hipérbole. Deveria escrever, passou-me pela cabeça, como se escrevia nos antigos telegramas. Chego amanhã stop Espera porta sul stop. E em tudo isto havia a beleza da contenção, do exercício da economia, da redução do discurso à informação e ao mandamento. Pena que não exista um florilégio da escrita telegráfica. Que profissão mais nobre pode haver do que a do antigo boletineiro, que voava levando em mão palavras urgentes e decisivas? Quando se fala do crepúsculo dos deuses é do desaparecimento de gente como os boletineiros, esses hermes da modernidade, que falamos. Como se vê a frugalidade das palavras não é virtude que pratique.
Sem comentários:
Enviar um comentário