Hoje é um dia especial, uma hora solene votada à meditação
transcendental e à reflexão, para que amanhã possa preencher o papel a
depositar na urna em consciência plena. Vi por aqui um conselho interessante
para meditação, o de O Livro das Falácias,
de Jeremy Bentham. Não é uma ideia desprezível e a meditação seria agradável,
por certo, mas não transcendental, como a hora exige. Por mim, recolho-me e
medito sobre a cláusula filioque.
Será que o Espírito Santo procede apenas do Pai, no dizer dos cristãos
ortodoxos, ou, como pretendem os católicos romanos, precede do Pai e do Filho.
Não se pense que a pendência não teve consequências práticas dolorosas. Levou
ao Grande Cisma do Oriente e talvez sem este Constantinopla não tivesse caído
na mão dos infiéis. Como se vê, o assunto é momentoso e apropriado à situação
grave em que nos encontramos. Como decidir a precedência do Espírito Santo e
dissolver a querela teológica não faço ideia. Não estou só, embora os teólogos
de ambos os lados tenham certezas antagónicas. A minha convicção, porém,
segreda-me que o Espírito Santo me iluminará amanhã na cabine de voto e me contemplará,
ao sair dela, com um jackpot,
segredando-me no silêncio da minha razão a sua verdadeira origem. Até lá,
estarei em reclusão meditativa. Transcendental, claro.
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