sábado, 5 de outubro de 2019

Meditação transcendental

Hoje é um dia especial, uma hora solene votada à meditação transcendental e à reflexão, para que amanhã possa preencher o papel a depositar na urna em consciência plena. Vi por aqui um conselho interessante para meditação, o de O Livro das Falácias, de Jeremy Bentham. Não é uma ideia desprezível e a meditação seria agradável, por certo, mas não transcendental, como a hora exige. Por mim, recolho-me e medito sobre a cláusula filioque. Será que o Espírito Santo procede apenas do Pai, no dizer dos cristãos ortodoxos, ou, como pretendem os católicos romanos, precede do Pai e do Filho. Não se pense que a pendência não teve consequências práticas dolorosas. Levou ao Grande Cisma do Oriente e talvez sem este Constantinopla não tivesse caído na mão dos infiéis. Como se vê, o assunto é momentoso e apropriado à situação grave em que nos encontramos. Como decidir a precedência do Espírito Santo e dissolver a querela teológica não faço ideia. Não estou só, embora os teólogos de ambos os lados tenham certezas antagónicas. A minha convicção, porém, segreda-me que o Espírito Santo me iluminará amanhã na cabine de voto e me contemplará, ao sair dela, com um jackpot, segredando-me no silêncio da minha razão a sua verdadeira origem. Até lá, estarei em reclusão meditativa. Transcendental, claro.

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