Um comentário insinua que estou a
caminho do ultra-romantismo. Talvez esteja mais perto do solipsismo mas a
carapuça do ultra-romantismo também não me há-de ficar mal. A culpa,
assevero-o, não é minha, mas do autor destes textos que teima em fabricar-me
deste modo. Eu bem me inclino para os factos e acontecimentos, mas ele, com uma
rigidez inesperada, tende a cerrar-me dentro de mim mesmo, fazendo-me crer que
a realidade é uma coisa pesada e pouco benévola. Desconfio que pretende fazer
de mim um discípulo de Manes e ele mesmo será um cátaro, mas os seus desígnios
e pensamentos são-me insondáveis. Se ele quer que eu seja um solipsista ou um
romântico ou um maniqueísta, o que posso fazer contra a prepotência da sua
vontade? Um dia fosco o de hoje. Olho pela janela e vejo sombras a caminhar na
avenida e os ciprestes que abundam por estes lugares. Um silêncio nega a
realidade, que logo acorda na figura de uma mensagem a informar-me que alguém
partilhou documentos comigo. Um dia ainda acredito que sou maniqueísta e que
toda a realidade é fruto de um demiurgo pouco frequentável. Que me salvem da
heresia, é aquilo que peço, mesmo que essa seja a vontade daquele que me cria.
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