sexta-feira, 18 de outubro de 2019

A virtude de ressonar

Depois de um almoço tardio, como se tornou hábito às sextas-feiras, acabei por adormecer sentado num sofá em frente de um jogo de snooker oferecido por um canal televisivo. Prova provada de que a arte de enfiar bolas num buraco me interessa muito pouco, embora seja preferível às notícias que outros canais repetem incansavelmente com a intenção de enlouquecer os espectadores. Adormeci e ressonei. Pessoas que se prezam não ressonam, mas por muito que me preze não consigo deixar de ressonar. Ao sentar-me para pagar a corveia, dei uma espreitadela às notícias online. Uma empresa oferece 115 mil euros pelos direitos ao rosto das pessoas. Ainda examinei a possibilidade de vender os direitos do meu, mas reconsiderei. Não é que eu seja particularmente humano, mas haver um robot com a minha cara com a finalidade de ser um amigo virtual para idosos é como querer vender-me para ser amigo de mim mesmo. Coisa que de bom grado dispenso. Pior que isso foi receber o convite para gostar da página de uma academia jovem de uma agremiação política daquelas que são novas mas dirigidas por gente que deveria estar reformada há muito. Pensei, não sem terror, que se vendesse os direitos do meu rosto, ainda me calhava ser amigo virtual de políticos velhos que em desespero de causa incentivam a existência de academias jovens. Por menos, foi Sócrates executado na Grécia. Antes ressonar em frente a um emocionante jogo de snooker.

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