sábado, 12 de outubro de 2019

Tornar-me Domingo

Adicionei ao meu eReader um livro do príncipe Piotr Kropotkin. Nunca tive uma alma dada à rebelião contra a existência do Leviatã. Para seres que albergam dentro de si um catálogo ilimitado de monstros, não me parece uma ideia sensata libertá-los do temor pelo monstro bíblico. Sei que almas sensíveis e outras que nem tanto gostam de se afirmar anarquistas, pelo menos ao sábado à tarde. Vou ler o livro como se lesse um romance, mas antes disso terei de atravessar a cidade para uma visita. Melhor que ser anarquista aos sábados à tarde é ir aonde nos esperam e temos o dever de ir. O vento não pára e as persianas da janela chocalham, enviando-me mensagens num código que não consigo decifrar. Também não será mentira se se disser que muitos são os códigos para mim indecifráveis. O autor destes textos poderia ter-me feito um pouco menos limitado, conceder alguma graça e deixar-me ser, aqui e ali, um pouco mais inteligente. Não quer. Um dia ainda me revolto e, contra ele, torno-me anarquista, daqueles que habitavam o mundo de O Homem que Era Quinta-Feira. A minha ambição será então tornar-me Domingo.

Sem comentários:

Enviar um comentário