Está a chegar o fim-de-semana e já o vejo a escoar-se,
perdido nem se sabe como. As semanas são círculos viciosos, em que se parte de
uma sexta-feira para chegar a outra, sem que um sentido para tudo isto se
desenhe. Quando oiço falar no território encantado da infância, apesar da
expressão me provocar uma certa náusea, lembro-me sempre daqueles anos
longínquos em que não havia semanas, com os seus dias fastos e nefastos. Lá em
baixo, no parque infantil, um bando de crianças grita. Parecem felizes e, por
certo, ainda não descobriram que existem semanas, com a sua corveia e a ilusão
de algumas horas de liberdade, para que o jugo férreo pareça mais leve. Eu sei
que a civilização tem um preço, as comodidades outro e que nada cai do céu.
Isso, porém, não nos deve impedir de increpar a ordem das coisas ou de maldizer
aquele descuido de Eva e Adão que nos atirou para a deplorável situação de à
sexta-feira já sentir o odor mascavado da segunda. O sol ainda brilha, mais
intenso que nos últimos dias e o arvoredo perfila-se imóvel com os seus dedos
de azougue voltados para o céu. Bem podia ter evitado o pathos da última frase, mas fui obrigado a dizê-la.
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