Podia ter sido um business
coach ou mesmo um finantial coach,
mas não passei de um mero coxo, cuja perna manca nunca teve poder para se alçar
ao business ou ao finantial. Admiro a infinita
criatividade de todas estas pessoas que, aproveitando a época de saldos,
compram palavras inglesas, vestem-se com elas e andam assim fardadas pela vida,
pois há sempre quem lhes compre os ersatzes. Adoro
esta palavra. Empreguei-a para compensar o meu complexo de não ser um coach de qualquer coisa. Sou frequentador
assíduo da compensação. Sem ela, como poderia olhar a vida e não ter vontade de
me esventrar com um sabre afiado. Das poucas coisas em que sou versado,
confesso não sem orgulho, é a poética da compensação. Não posso ser rei, ao
menos que proclame a não existência de coisa mais nobre do que ser súbdito. Assim
a vida em vez de um vale de lágrimas soprado pelo vento do ressentimento é uma
festa, onde todos os súbditos que não podendo ser trigo descobrem a alegria de nascerem
joio. E é isso o que eu sou, embora tivesse um indisfarçável talento para coach ou para rei, talvez mesmo para
grilo falante.
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