Fascina-me sempre a fé que as pessoas têm na sua própria
opinião. Também eu terei tido fé nas minhas opiniões. Depois, tornei-me
agnóstico e, hoje em dia, sou francamente ateu perante muitas das ideias que me
atribuo. A primeira coisa de que desconfio é das opiniões que nascem dentro de
mim. Deito-lhes um olhar enviesado, rosno-lhes e, se calha partilhá-las, não é
porque creia nelas, mas para me livrar do seu cheiro negro, para evitar que
azedem e me empestem os pulmões. Dou comigo a pensar, não poucas vezes, que o
caminho da Cartuxa tornaria o mundo bem mais habitável. Isto, todavia, não
passa de uma opinião, para qual também me falta fé. Li já não sei onde que a
Cartuxa de Évora iria fechar e os monges partiriam para Espanha. Faz sentido,
num país onde todos têm opiniões para dar, que não haja quem decida calar-se de
vez e entrar na pátria do grande silêncio.
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