Acordei ainda não eram sete da manhã. A temperatura na rua
tinha descido bastante, apressei-me a
abrir janelas e a pôr a casa sob o efeito de correntes de ar. Estava uma manhã
esplêndida. Cinzenta, fria. Um vento suave lavava o rosto da cidade encardido
pelo calor. As ruas pareciam transitáveis e dos prédios começavam a sair as
primeiras pessoas em direcção aos carros estacionados sob árvores, de onde se
desprende um fluido viscoso que se pega aos vidros. Um atleta paroquial,
equipado a rigor, passou na sua bicicleta de corredor, um homem de máscara
trazia um cão pequeno à tela, a vida mascarava-se de normalidade. Quando saí, o
feitiço tinha desaparecido. O Sol rompera as muralhas e tornara-se ameaçador.
Na esplanada do café da praceta, havia clientes nas três mesas que agora flutuam
distanciadas no estrado. Numa delas, a Marília conversava com o Zé Tó. Afinal
quem estava no outro dia a sambar para ela não era o Esteves nem o Lopes, mas o
Zé Tó, que, enquanto geólogo, andou por meio mundo à procura de petróleo. Esse
deambular é toda a metafísica que lhe coube, mas ninguém quer saber de
metafísica para coisa alguma. Os olhos já tiveram melhores dias, foi o que me
ocorreu, quando percebi o troca que fizera da outra vez. Passei por eles, olá,
olá, e continuei em direcção ao meu destino, pois hoje tinha um. Entrei nele
mascarado, estive por lá mascarado e saí mascarado. Embora a criatividade nos
disfarces ainda seja incipiente, o Carnaval está a tornar-se eterno. Não tarda
e todos sentiremos falta da Quarta-Feira de Cinzas.
Acordada desde às 6h30m, mesmo com a temperatura mais baixa...os deuses às vezes fazem-lhe a vontade:)
ResponderEliminar~CC~
Às vezes lembram-se de um gesto de simpatia. Hoje a previsão é de 34, mas agora está bastante razoável.
EliminarHV