Bocejo, não porque a realidade seja um tédio, mas porque
tenho sono. Às seis da manhã acordei com sede, o que me tirou da cama. Bebida
água, fiquei a ler, mas já não me lembro o quê. Quando voltei a adormecer fui
acordado pelo despertador. A manhã estava esplêndida, no céu não se prometia
uma invasão de calor e um vento suave refrescava a paisagem, fazendo tremer as
folhas que, mal ele se recolhia, ficavam em sossego, à espera da reverberação
matinal. Ainda não saí de casa, mas também ninguém espera por mim. O telemóvel
está sempre a dar-me informação. Chega ao cúmulo de partilhar comigo quais são
as aplicações que lhe estão a gastar bateria. Se eu quero que ele as feche,
pergunta-me. Ora, ora, se eu fosse fechar as aplicações que me gastam a bateria,
o que seria de mim? Tornei a bocejar, no exacto momento em que se ouviu uma
buzina agastada. O que quererá dizer esta coincidência? Abro a boca na mesma
hora que alguém carrega na buzina. Um acaso, diz-me o anjo benfazejo, não quer
dizer nada. Falso, grita irritado o amigo do capeta. Não há acasos, tudo está
milimetricamente determinado. Encolho os ombros e deixo os anjos a
digladiarem-se sobre questões metafísicas. Estão no território deles e o mais
avisado é não me meter. Vou dormir a sesta.
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