A cidade é um jogo de memórias puxado pelo cabresto da
imaginação. Ali, onde se vê uma casa vazia, imagina-se quem lá viveu e fechou
as portas para que a vida se encerrasse, e nunca mais uma dor fosse o reverso
da alegria, ou a amargura cobrisse com o seu manto de púrpura os prazeres que a
vida engendrava. Um sol amarelo e resignado cobre o casario, tinta-o de uma luz
esquiva, tece-o de sombras e segredos e prepara-o para os temores da noite. A
memória enumera conhecidos que habitavam as ruas e que agora não habitam em
lugar nenhum. A cidade é uma sexta-feira santa sem um domingo de ressurreição
no calendário.