A tristeza desprende-se das nuvens em gotas ínfimas, paira
por instantes sobre a cidade e precipita-se, como um vício insensato, pelas
ruas. O que me salva é o vídeo do meu neto chegado através de uma daquelas
aplicações que teimam em aproximar a humanidade. Vejo-o esbracejar, quase
irado, e isso faz-me rir e dá-me ânimo. A arte da consolação não é esquiva nos
materiais que escolhe para distribuir a sua bênção. O vento sopra contra a janela, empurra a chuva e perante
os meus olhos desenham-se incontáveis universos de água, que logo se arrojam para
a arca negra da inexistência. Ninguém sabe o que fazer com a obscuridade do
dia. Uns esperam a luz, outros aguardam as trevas. Eu, pobre de mim, olho as
façanhas do rapaz e conto os dias que faltam para ele voltar cá a casa.