Cada um sabe de si, leio num post de protesto acerca de uma minudência qualquer. E fico feliz
por haver gente que até de si sabe. Eu sei cada vez menos coisas e, de mim, a
ignorância nunca foi exígua. Talvez isso seja efeito da sexta-feira. Há dias da
semana que possuem estranhos poderes sobre o que as pessoas dizem: inclinam a
vontade, torcem o sentimento, amarfanham a palavra. Depois, desce do céu, tão
azul que ele há pouco estava, um manto de ilusões, que cai sobre os ombros e
destrava a prosápia. Ah se cada um soubesse de si, as árvores não perderiam as
folhas no inverno nem os pássaros se recolheriam mais ao sul. Se cada um
soubesse de si, o vento vacilante da tarde levaria para longe as escamas que
cobrem os olhos. O silêncio, então, viria como um deus dançar embriagado pelas
ruas deslavadas desta cidade.