Há muito que não fazia uma caminhada. Hoje, porém, enfrentei
estradas e caminhos. A verdade é que o fiz não por amor ao dever de andar (que
Kant me perdoe) ou às paisagens que atravesso. Quando combinei a revelação que
esta manhã a balança me fez com o resultado, recebido ontem, de umas análises
de rotina, aliás com quase todos os valores no lugar certo, percebi que talvez
o médico não estivesse destituído de alguma razão ao receitar-me exercício
físico. E foi assim que me expus ao sol entristecido da tarde e me aventurei
por caminhos a que os escapes dos automóveis e camiões dão o seu inigualável
perfume. Fi-lo como quem toma um comprimido ou bebe umas gotas cujo amargor
nunca a água dilui ou dissipa. Quando cheguei a casa, prometi que amanhã
voltaria e que ainda me haveria de tornar um desportista a sério, daqueles que
treinam todos os dias, embora nunca joguem ao domingo.