O mundo quer ser distraído mas nós temos que o perturbar,
diz Minetti, o velho actor que dá nome à peça de Thomas Bernhard. É nisto que
penso enquanto me imagino caminhar, rua fora, cumprimentando conhecidos aqui e
ali, observando o movimento dos cafés, a inconstância do trânsito. O céu tem
nuvens cinzentas e as árvores acomodam-se, imperturbáveis na sua verdura, se a
têm, e deixam os ramos oscilar ao vento, como se embalassem um filho há muito
desejado. Pobre Minetti, compadeço-me, enquanto um bando de adolescentes passa imerso
nos seus códigos voláteis, a arquitectar aventuras que nunca acontecerão, cegos
para a velhice que neles se aninha. Quantos candidatos a perturbadores do mundo
conheci? Uma ambulância passa vagarosa e oiço o correr de umas persianas. O mundo
nunca foi outra coisa senão perturbação, afirmo distraído, enquanto fecho a
porta da casa onde guardo as minhas opiniões sobre seja o que for.