segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Más leituras


Como Rosseau também eu tenho os meus devaneios de caminhante solitário. Poderia meditar sobre o lixo que encontro, as pessoas que passam por mim, a azáfama dos escapes a libertarem o ar puro que hei-de respirar. Poderia, mas não foi o que fiz hoje. Isso deveu-se à impertinência de uma frase de Jean-Jacques lida pouco antes de me dispor a sair para a rua: “Quando o meu destino voltou a lançar-me na torrente do mundo, já aí não encontrei nada que pudesse, por um momento que fosse, atrair o meu coração.” Era essa incapacidade do mundo em atrair-me o coração que ocupava os meus pensamentos, enquanto as pernas se deslocavam, mecânicas, para destino nenhum. O pior é que o mundo que ia vendo, em vez de me tranquilizar com um desmentido, apenas confirmava aquilo que tinha lido. Talvez não deva ler antes de ir caminhar.