Como Rosseau também eu tenho os meus devaneios de caminhante
solitário. Poderia meditar sobre o lixo que encontro, as pessoas que passam por
mim, a azáfama dos escapes a libertarem o ar puro que hei-de respirar. Poderia,
mas não foi o que fiz hoje. Isso deveu-se à impertinência de uma frase de
Jean-Jacques lida pouco antes de me dispor a sair para a rua: “Quando o meu
destino voltou a lançar-me na torrente do mundo, já aí não encontrei nada que
pudesse, por um momento que fosse, atrair o meu coração.” Era essa incapacidade
do mundo em atrair-me o coração que ocupava os meus pensamentos, enquanto as
pernas se deslocavam, mecânicas, para destino nenhum. O pior é que o mundo que
ia vendo, em vez de me tranquilizar com um desmentido, apenas confirmava aquilo
que tinha lido. Talvez não deva ler antes de ir caminhar.