terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Desconsolo

Depois de almoço tive de ir ao banco, no centro histórico da cidade. Sejamos piedosos e não poupemos a hipérbole. Ao entrar, lembrei-me do tempo em que não havia ali pessoa que não conhecesse. Agora, constatei, não sem incredulidade, que nenhum daqueles rostos me dizia alguma coisa. Tentava situá-los aqui ou ali, mas só o silêncio respondia à minha interrogação. A cidade é exígua, o tempo, porém, não vacila e arrasta na voragem tudo o que foi comum. Saí desconsolado pelo peso da ignorância. Uma ameaça surda pairava sobre a minha inquietação. Janeiro é um mês cruel e estende as suas garras até aos confins da memória. Quando esta sangra, então ele afrouxa os tentáculos e deixa-nos à porta de um jardim onde ninguém nos espera. Olho as ruas, as pessoas que vão e vêm, os escombros da velha vila a céu aberto. A vida, pensei, é uma árvore calcinada pelas tentações de Inverno. Que catarse poderá pacificar as almas?, perguntei, ao avistar os ciprestes do cemitério. O carro trouxe-me rapidamente para casa.