Depois de almoço tive de ir ao banco, no centro histórico da
cidade. Sejamos piedosos e não poupemos a hipérbole. Ao entrar, lembrei-me do
tempo em que não havia ali pessoa que não conhecesse. Agora, constatei, não sem
incredulidade, que nenhum daqueles rostos me dizia alguma coisa. Tentava
situá-los aqui ou ali, mas só o silêncio respondia à minha interrogação. A
cidade é exígua, o tempo, porém, não vacila e arrasta na voragem tudo o que foi
comum. Saí desconsolado pelo peso da ignorância. Uma ameaça surda pairava sobre
a minha inquietação. Janeiro é um mês cruel e estende as suas garras até aos
confins da memória. Quando esta sangra, então ele afrouxa os tentáculos e
deixa-nos à porta de um jardim onde ninguém nos espera. Olho as ruas, as
pessoas que vão e vêm, os escombros da velha vila a céu aberto. A vida, pensei,
é uma árvore calcinada pelas tentações de Inverno. Que catarse poderá pacificar
as almas?, perguntei, ao avistar os ciprestes do cemitério. O carro trouxe-me
rapidamente para casa.