O vento ondula o arvoredo como se este fosse uma seara
arcaica trazida dos confins da terra. E eu aguardo o deslizar do dia, a espuma
das horas que se derrete ao sol, o rigor do esquecimento que a tudo há-de
trazer paz e purificação. Uma nuvem passa diante do sol e a luz entenebrece um
pouco, mas logo o vento leva a intrometida e deixa que os raios caiam como
punhais sobre os transeuntes. Estes vão em pequenos bandos, lembrando famílias
a caminho da igreja num domingo de há cinquenta anos. Com o florete das
palavras desenho na areia os frutos que me cabem, enquanto imagino o canto das
cigarras ou o sabor do vinho novo. Afasto-me das minhas paixões e cruzo o adro
da manhã para entrar, inútil e cego, pela porta do meio-dia.