Hoje é dia de Reis. As pessoas aproveitam o sol, dão
passeios vagarosos pelas ruas, cumprimentam-se como se não se vissem há muito, vão
aos cafés e compram bolo-rei ou bolo-rainha, este uma introdução recente,
talvez em nome da igualdade de género. Foi tudo isso que vi, quando, também eu,
fiz o mesmo e, por opção cá de casa, deixei-me embalar por essa desejada igualdade.
Quando saía da pastelaria com a caixa do bolo nas mãos e os olhos a piscar por
causa do sol, meditei que estava deslocado. Hoje é dia de Reis e não de
Rainhas. É assim que se pervertem as tradições, constatei ancorado num conservadorismo trazido pela idade. Levados pelo prazer estético, esse exercício
de individualistas dados ao hedonismo, trocamos as frutas cristalizadas pelos
frutos secos, como se fosse um upgrade do software que nos há-de levar ao
paraíso gustativo. Que Baltasar, Belchior e Gaspar nos perdoem por os termos
trocado pela rainha de copas.