Contrariamente ao que é costume, hoje, domingo, tive de ir
fazer compras, coisa que me deixa num humor variável, umas vezes mau e outras
indiferente. E enquanto passeava pelos corredores de uma grande superfície,
visitando os múltiplos altares e parando em várias capelas, todos eles, altares
e capelas, dedicados a um santo necessário ao bem-estar, pensava que antigamente
os domingos estavam despojados destes cultos pagãos. A missa do meio-dia em S.
Pedro, depois almoço em família, e, se fosse o caso, uma ida ver o futebol ao
Almonda Parque, mais conhecido pelo quintal do Zé Maria. O mundo era mais
simples e eu mais ingénuo, mas talvez não tão idiota. Não havia grandes
superfícies e mesmo que a ida à missa se tivesse transformado, como era
recorrente na época, numa oportunidade para ver as raparigas, e nisso estava
toda a devoção pagã do rapazio, a verdade é que o objectivo desse pobre
paganismo provinciano era mais interessante do que observar coisas tão
cosmopolitas como as líchias vindas da China ou as papaias provenientes do
Brasil.